Como estruturar os próximos eventos? A partir de que modelo intervencionista poderia criar novas possibilidades de ações?
Na experiência anterior notei que a metodologia informada inicialmente neste projeto se desvinculava cada vez mais do que eu queria abrindo espaço para as outras necessidades dentro desta pesquisa. Para que pudesse estruturar melhor este trabalho, decidi organizar um grupo de apoio de pesquisa no qual proporia ações. Para apoiar o desenvolvimento do meu projeto de Iniciação Científica o grupo denominou-se Coletivo Colaborarte, devido a natureza colaborativa dos eventos que se completava no trabalho das participantes.
Todavia, haviam interesses e ansiedades diferentes no grupo, e o tema Sociedade de Consumo, já não era um interesse coletivo. Surgiram também desejos de explorar possibilidades de intervenção menos vinculadas às dinâmicas teatrais. Com alguma insistência, consegui assegurar que precisava deste material e, portanto no próximo evento deveríamos trabalhar com alguns conceitos teatrais que havia selecionado no dicionário de Patrice PAVIS, para um posterior estudo comparado.
Para que o grupo pudesse chegar a um acordo procurei referências que contemplassem ambos os interesses. A referência escolhida foi o grupo americano Improv Everywhere que criam cenas de caos e alegria em lugares públicos do mundo inteiro. Criado em agosto de 2001 por Charlei Todd, o Improv Everywhere tem executado mais de 80 “missões” envolvendo milhares de agentes “disfarçados” em todo mundo. Estes agentes são voluntários que via internet se candidatam para fazer parte das intervenções também chamada de missões. Destes eventos apenas três nos interessaram: Frozen Grand Central, Food Court Musical e Suicide Jumper, sendo estes dois últimos mais teatrais. O interessante destas cenas é que elas objetivam a diversão e, sobretudo a quebra da rotina tanto de quem vê quanto de quem faz. Com um roteiro simples escolhemos a missão Frozen Grand Central como modelo para o segundo evento Intervenção Cênica: Ensaio Aberto Parte II a fim de experimentar um roteiro de cena com apenas duas ações físicas, diferentemente dos eventos anteriores.
Em Frozen Grand Central apenas uma ação consta em seu “roteiro”: congelar onde está por mais de cinco minutos. Esta ação se passou na maior estação de trem - o Grand Central Station - na cidade de Nova Yorque com cerca de 200 agentes que congelaram no mesmo lugar por mais de cinco minutos no hall principal desta estação. Mais de 500.000 pessoas passam por este local, todos os dias, sem perceber a arquitetura do lugar, sem olhar o outro. Com esta proposta, a rotina deste espaço foi modificada, chamando a atenção de funcionários, de alguns transeuntes e principalmente de turistas. Todo o registro feito por eles em vídeo e foto também é uma forma de entretenimento disponível em sites, abrindo a possibilidade para que o mundo conheça as missões e outros criem suas próprias cenas.
Influenciadas por esta missão, eu e o grupo pensamos em diluir a intervenção anterior em apenas duas ações: andar e pausar, num local de passagem estreita. O local escolhido foi a feira de artesanatos que acontece aos domingos no Largo da Ordem, centro histórico de Curitiba, onde há um grande número de transeuntes, artesãos, vendedores e turistas. Visto que a pesquisa anteriormente caminhava para observação das Corpografias Urbanas lancei o desafio para o grupo, a partir da observação do espaço e do corpo inserido, tentar perceber as diferenças entre calçadão da Rua XV de Novembro e os estreitos caminhos da Feira de Domingo do Largo da Ordem. Como nossos corpos se comportariam no espaço da feirinha? Que necessidades surgiriam? Surgiria o desejo de se relacionar com os outros? Com os objetos? Com o meio? A partir destas perguntas o roteiro foi revisto a fim de que houvesse a modificação do espaço e dos corpos, sem um tema concreto. Diferentemente da missão Frozen Grand Central, da qual participaram cerca de 200 agentes, nós, com apenas cinco colaboradoras, executamos as ações (Andar e Pausar) vestidas de vermelho, agora sem os elásticos, com outro objetivo: chamar a atenção de quem estivesse neste espaço modificando a trajetória do olhar do espectador. Mas será que mudou a trajetória? Acreditei que o vermelho teria o mesmo efeito que na intervenção realizada pelos americanos do Improv Everywhere, no entanto na feira fizemos o que todos fazem: andam lentamente, param para observar os objetos e seguem adiante.
Ao observar os registros notei a influência da presença das registradoras e da cor vermelha no olhar do público. A postura das registradoras, em relação à ação tornou os corpos das colaboradoras mais evidentes influenciando no olhar do público e até mesmo na opinião dele.. Ao ver alguns depoimentos coletados, foi possível ver como diferentes pessoas perceberam nossos corpos a partir de uma ótica machista, ou política ou funcional. Mais uma vez nossos corpos ganhavam diferentes significações originadas na atividade de cinco jovens mulheres de vestido vermelho que permaneciam naquele ambiente.
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