quinta-feira, 9 de abril de 2009

DEPOIMENTO DA COLABORADORA: KELLY YOHAMA

Foto: Rafaelin Polli

Desde que o projeto se iniciou em 2006 com a orientação da Prof. Ana Fabrício, e que foi executado na Rua XV com grande êxito, digo em relação aos transeuntes e também para grande enriquecimento do nosso repertório na época, sempre tivemos essa vontade de retomar, já agora, com um repertório corporal e artístico mais aprofundado.
Tínhamos consciência que nessa nova retomada, algumas coisas poderiam estar meio perdidas, pelo fato de termos deixado de lado essa pesquisa. Mas o que particularmente me ajudou muito foi o fato do impulso e vontade da Aline Silva de retomarmos e de buscarmos todas as pesquisas feitas anteriormente,para que fizéssemos algo parecido sem perder qualidade. E com certeza não perdemos qualidade nem energia, muito pelo contrário.
Minha percepção de olhares e ações das pessoas a minha volta estavam muito mais nítidas, tanto que, por momentos percebia pessoas a minha volta me olhando, ora indignadas, ora tentando me desafiar gritando junto comigo. Pelo fato da minha função ser mais dissipadora e contrária às demais, tenho uma certa liberdade de interação com o público, e dessa vez eu não me contive, e o público também não se conteve e nem teve vergonha de olhar e participar. Lembro-me de na frente da Casa China um homem tentar espiar debaixo do vestido das meninas, e logo quando vi, fui atrás dele e dei um berro, ele no momento se assustou, deu risada, e até o fim da performance nos acompanhou tentando sempre me imitar. Algumas pessoas chegavam até mim, perguntando o que estava acontecendo, sem medo de chegar perto. Uma até participou junto me doando uma lata cheia de Coca-cola, percebendo que aquela lata era um dos motivos daquela intervenção, e também vendo a minha cara de sede!
Acho que dessa vez conseguimos um maior foco no que queríamos, e alcançamos a atenção da maioria das pessoas que passavam pela XV de novembro. Muitas pessoas no percurso pararam para olhar, e entendiam perfeitamente o que estava acontecendo, outras até batiam palmas.
Algumas frases que eu acho que valem a pena lembrar são: “Coitadas...tudo isso por déizão...”, “que japa louca...”, “que droga será que ela tomou, me dá um aí...”. E algumas pessoas fotografando e filmando também nos incitaram a fazer ações que até então não existiam.
Acho que cada vez que colocarmos o nosso corpo na rua com esta intenção de não ser apenas um transeunte, mas sim de tentar explicitar algo, sempre será diferente, pois as pessoas que ali passam são diferentes, cada uma tem o seu repertório pessoal, e pensa o que bem entende daquilo que estamos fazendo. E não podemos nunca tentar adivinhar o que poderá acontecer, pois será sempre inevitável, bem como qualquer coisa que envolva pessoas e corpos.
A idéia de invasão do espaço urbano não se perde. É um processo que com certeza atinge as pessoas, e quem o concretiza.


Curitiba, 09 de abril de 2009

Kelly Yohama Eshima

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