Embaixo: Esquerda: Lívia e Direita Juliana
No meio: Professora Ana Fabrício
Esquerda acima: Eu (Aline) atrás Vanessa
Direita Acima: Paty Cipriano
Levantaram-se questões sobre a influência da palavra uniforme no cotidiano. Que seria esse uniforme? Sistema social? Indumentária? Atitudes? Gestos? Respondendo corporalmente as questões apontadas, surgiram em meio às improvisações, formas geométricas dispostas no espaço cênico e movimentos assimétricos ritmados (robotizados) seguidos de som labial sugerindo negação. Onde há negação há afirmação, e desta relação nasceram dois personagens: Opressor e Oprimido. Durante essa improvisação automaticamente isolavam-se as outras personagens que ficavam alheias aos fatos. Surge, portanto, o personagem Alienado. Destes três personagens, determinaram-se peculiaridades: o Opressor detinha a liderança, indicando direções; sendo que o Oprimido e o Alienado acompanhavam sem “questionar” a uniformidade dos movimentos. Para que toda esta construção acontecesse estabeleceu-se que o olhar seria a liga de todo o trabalho, pois estabeleceria diálogo e sincronismo entre as executantes.
Contudo, durante a criação, apareceu dentre as personagens uma figura que resistiu a movimentação uniforme. O Resistente, assim chamado, estava fora dos padrões e por não incluir-se ao “sistema” de movimentos foi imediatamente excluído pelos outros personagens. No contato com este novo personagem introduziu-se texto, que no decorrer do desenvolvimento das ações reduziram-se a apenas palavras monossilábicas como “sim” e “não”.
Todo este processo estava ligado às necessidades de uma transformação espacial. Sabia-se que este trabalho não deveria ficar apenas em sala de aula. Era preciso comunicar fora das fronteiras da Faculdade. Entretanto a avaliação final se daria dentro da Instituição, e era preciso escolher um local de grande fluência de pessoas: a cantina. Apropriando-se do local percebemos que não condizia com as necessidades do projeto. Assim, deste modo, a realização deste trabalho se daria em um espaço urbano de área comercial.
2. Planos
Neste processo de criação foram incluídos por Ana Fabrício dois planos de execução que deveriam acontecer na cena: plano real e plano imaginário. Primeiramente, optamos pelo real devido à necessidade de sair da sala de aula, já que a cena estava diretamente ligada ao espaço circundante. Precisávamos de um local com grande fluência de pessoas e comércio: o calçadão da Rua XV de Novembro, região central de Curitiba. Além de ser um lugar público de passagem e de comércio, a Rua XV de Novembro é um espaço geográfico planejado que, para o grupo, era um excelente local para ocupação e explorações cênicas.
Transpondo na mesma disposição espacial, o plano do imaginário se passaria em um aquário na tentativa de remeter aos peixes que vivem isolados. Vivendo em cardumes, sempre seguindo uma direção pré-determinada, formando movimentos uníssonos a metáfora foi empregada nesta criação teatral como um recurso para “amarrar” as ações. Os braços e pernas de cada atriz foram conectados por elásticos, limitando alguns movimentos possibilitando outras ações.
As ações concebidas através dos elásticos desempenharam para as atrizes uma nova relação entre corpo e espaço. Discutiu-se com o corpo o que seria a palavra “uniforme”, surgiram personagens que significaram o dia-a-dia e determinou-se o local onde todas essas possibilidades de movimento poderiam se concretizar. Porém era preciso discutir a indumentária. Ora, se a palavra uniforme estava em todo o processo de criação porque não uniformizar as atrizes? Todas de vestido, adereços e maquiagem vermelhos. A tonalidade foi escolhida das análises de cores feitas na aula de Psicologia da Personagem. O vermelho é ambíguo, chama atenção, é cor do amor, da raiva, do protesto e das manifestações populares.
3. Trajetória/Roteiro
O início da trajetória foi na frente da Associação Comercial do Paraná com a formação de um triângulo que permaneceu parado por alguns minutos (estipulado na hora). As atrizes saíram apressadas desta posição dispondo a formação “Aquário” que foi retirada do plano imaginário. Kelly representou o personagem Resistente que saiu do meio da formação “Aquário” e fez seus movimentos individualmente em cima de um banco. As outros a observaram e a negaram com sons labiais. Em seqüência formaram uma diagonal que ocupou o espaço horizontal da Rua XV com movimentos assimétricos. Kelly sempre estava com movimentos diferentes. As outras atrizes começaram a estalar os dedos e seguiram adiante até a loja Diva em linha reta (horizontalmente). Essa linha, composta pelas atrizes, parou na frente desta loja por alguns minutos, e de repente estenderam o braço bruscamente fazendo movimentos de “cobiça” com a mão. A trajetória continuaria em todos os comércios que mais lucram como: Renner, Marisa, C&A, HSBC e MacDonald’s. O objetivo era cruzar a Rua XV de Novembro inteira com esta partitura de movimentos. Concluído.
4. Resultados
Durante a execução o público teve diversas reações, alguns riram, outros concluíram que era um protesto contra o Banco HSBC em véspera de comemorações natalinas, e outros achavam absurdas as atitudes de seis jovens mulheres atrapalhando o trânsito de carros e pedestres. A reação do público fez-nos tomar outras atitudes na cena. Lidar com o acaso, alterando um pouco o plano de ação. Mas o grande resultado foi entre o grupo que viu a possibilidade de se conquistar conhecimento levando até a sociedade a expressão artística. Compartilhar é a forma que nós, o grupo, encontramos de manifestar nossas necessidades através do Teatro. O que fizemos, esta Intervenção Cênica, é o resultado de uma produção em sala de aula que implicou em área pública, em véspera de comemorações natalinas. Estas experiências deram mais vontade de entender as possibilidades de criação do ator e como este pode trabalhar em conjunto com a sociedade. Por fim, da palavra no papel à uma ação no corpo à interferência no espaço.
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